Pedalando nos cordéis do imortal Antonio Francisco

O mês de outubro, é mês de festa em Mossoró, pois marca a data de nascimento de Antonio Francisco Teixeira de Melo. Este ano completando 72 anos.

Os seus cordéis ecoam dos mais sofisticados salões, aos mais humildes casebres, nos mais longínquos rincões. É citado, recitado e venerado por grandes mestres e também por crianças e excluídos, de forma unânime. Porque a poesia de Antônio Francisco Teixeira de Melo, “ Poeta Antônio Francisco” é transcendental e imortal, transpondo todas as barreiras do preconceito e do tempo.
A prosa com Antônio Francisco é sempre prazerosa e enriquecedora, principalmente quando acontece no seu quintal, que preserva um pouco de tudo que é o Nordeste brasileiro.
Foi embalado pelo canto de pássaros, que livres fazem do quintal de Antônio Francisco, tomado de plantas diversas e um lago com peixes, o seu habitat natural, que nós proseamos com ele para edição de hoje, do Prosa com Artista.
O poeta, cordelista, xilógrafo e compositor potiguar, é filho de Francisco Petronilo de Melo e Pêdra Teixeira de Melo e nasceu em 21 de outubro de 1949, na cidade de Mossoró no interior do Rio Grande do Norte. Embora formado em História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte(UERN), e ocupante de uma cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que foi de Patativa do Assaré, ele continua levando um vida simples e pacata, como sempre desejou.
Antônio Francisco é visto como a melhor revelação da poesia popular surgida no RN, desde Fabião das Queimadas, famoso escravo cantador de rabeca, que comprou sua própria alforria ganhando dinheiro através dos seus versos.
Um homem a frente do seu tempo que prega o amor e respeito à natureza e aos preceitos básicos universais, através dos seus versos. Descoberto pela poesia depois dos 40 anos, como ele mesmo faz questão de dizer, sempre foi uma pessoa ativa em busca de novos horizontes.
Esportista, filho de ex-jogador de futebol, esporte que também praticou por muitos anos, mas, o que sempre o cativou foi o ciclismo, que ainda pratica, fazendo passeios de bike por toda região Nordeste; daí, talvez, a razão de sua estreia tardia nas letras, com a publicação do “Meu Sonho”. O jeito de ser e viver do poeta se evidencia em seu primeiro poema, onde recorre à fantasia para demonstrar sua inquietação com a interação entre o homem e o meio.
Dez cordéis num cordel só (2001), representa, sem dúvidas, um de seus melhores trabalhos e um marco na poesia popular brasileira; nele, o poeta retrata inúmeras situações e imagens da vida cotidiana do homem nordestino, sempre costurando, ao longo dos seus enredos, um fundo de reflexão social e espiritualidade. A linguagem utilizada é a do homem comum, na fala simples do cotidiano nordestino que encanta brasileiros de todas as regiões e classes sociais. O cordelista Antônio Francisco começa a estourar nacionalmente a partir do lançamento de sua obra completa pela editora cearense IMEPH, em 2011. É quando outras regiões do país o descobrem, escolas adotam seus livros e convites para apresentação começam a chegar vindos de várias partes do país, inclusive do meio acadêmico.
O elevado nível da poesia produzida por Antônio Francisco, despertou o interesse de estudiosos em universidades e escolas públicas e privadas do Rio Grande do Norte e também de outros estados, como São Paulo, Pernambuco e Ceará, adotaram os cordéis de Antônio Francisco em seus vestibulares e currículo de livros didáticos.
Ande cá! Vamos prosear com Antônio Francisco!
Por Fabiano Souza
Prosa de Artista: Gostaria que Você falasse um pouco sobre suas origens e sua infância em Mossoró. Terra que você ama e exalta por onde anda!
Antonio Francisco: Nasci aqui mesmo em Mossoró, nesse mesmo bairro, onde estamos conversando agora, aqui na Lagoa do Mato. Aqui em casa o único papel que se via era o cordel. Quem mais lia era papai. Mas quando era à noite, o povo me chamava para eu ler aqueles cordéis. Era muito bonito aquele mundo poético. Uma lamparina e eu lendo e do meio para o fim também colocava meus próprios versos. Porque ás vezes achava ruim aquela história. Comecei a ler muito, ler bem, mas eu acanalhava. Depois o cordel ficou meio de lado e passei a ler muita revista. Era Luluzinha, Bolinha, Zorro, Batmam, Noturno. Eram muitas revistas aqui na rua. O cordel ficou esquecido um tempo e, à noite, foi substituída, pela leitura de bang-bang. Mas a minha aproximação com Luiz Campos(grande poeta da terra), meu vizinho, reacendeu aquela vontade de escrever os cordéis, e percebi que aquelas músicas que ouvia no rádio eram também cordéis, mesmo cantadas. Você vê que tudo é cordel. Os ditados populares tais como: “Casa de ferreiro espeto de pau”. Tudo neste ritmo é o ritmo do cordel. No fim, comecei a me apaixonar pelo cordel quando já era adulto. Pelo encanto que o cordel tinha, inventei de escrever. Às vezes, eu digo: meu cordel é um pouco de Luiz Campos, um pouco de Crispiniano Neto (poeta da terra) e o meu também, que é a parte de pensar. Nessas alturas, eu já tinha sido sapateiro, carpinteiro, pedreiro, soldador, plaqueiro. Tudo eu fui. Sempre fui um menino atrás de fazer as coisas. Via o povo jogando bola, daí queria ser jogador de bola; via um cara no circo e queria ser como ele, eu queria também correr de bicicleta. Tudo eu queria e graças a Deus fiz de tudo um pouco. Corri de bicicleta, joguei bola, fui do exército, mesmo tendo 1,54 m. A única coisa que podia dar o “diploma de homem” era o exército. Passei um ano por lá, mesmo eu tendo me arrependido muito, tinha que ir. Depois saí do exército e fui trabalhar de sapateiro, foi quando conheci minha esposa Nira e me casei e vivo até hoje. Também trabalhei abrindo letra. De lá para cá venho trabalhando com cordel e mantendo minha família.
P.A. Como foi sua vida estudantil? Você foi um bom aluno?
A.F.: Não fui bom aluno, tanto é que abandonei a escola na juventude e só fui concluir os estudos depois de casado. Eu ficava incomodado com o que lia nos livros, que o negro era escravizado, que o índio era preguiçoso e tantas outras coisas. Mas depois de casado percebi que era importante ter um diploma e voltei a estudar. Fiz exame de admissão, supletivo, pr4estei vestibular e conseguir me formar. Fia faculdade entre 1980 e 1984. Tudo que eu fiz foi atrasado. Fiz faculdade já casado, com 3 filhos, e achava bom porque eu ia de carona e voltava correndo. Nesse tempo era bom demais vir da FURN (atual UERN) correndo. Isso era uma diversão. Eu fazia questão de voltar correndo (risos).
P.A.: A Faculdade teve um peso importante na sua formação como poeta cordelista?

A faculdade, assim como o cinema, os filmes colaboraram para a minha formação. Foi na faculdade que conheci Crispiniano Neto, Aluísio Barros, entre tantos outros que viam na minha poesia, que era estimulada por Luiz Campos, algo bom. Crispiniano uma vez me disse: Hoje Mossoró emprestava o nome a Antonio Francisco, mas um dia, Antonio emprestará seu nome a Mossoró, e parece que tem acontecido. E Filmes, eu assisti muitos filmes. Mossoró naquela época tinha 6 cinemas e hoje tem uma sala. Tinha cine Pax, Caiçara, Cid, Jandaia eram os grandes cinemas da cidade. Tinha Ivo Golinha e o Centenário nos bairros. Hoje acredito que no Brasil quase não existe cinema nos bairros e nós tínhamos, à época dois cinemas no bairro Alto da Conceição. Era cheio todo dia. Lá em casa não tinha energia, mas eu já sabia que existia aspirador de pó, assistia 007,todas aquelas tecnologias. Inclusive Julio Wernere e Victor Hugo, eu os conheci no cinema. Para escrever quanto mais visão de mundo é melhor: onde você está situado tem história e tem um pouco de Geografia. Naquela época, estava surgindo o Partido dos Trabalhadores (PT).Era muita efervescência na Universidade: Karl Marx, Lênin, Troitsky.Eu lia todos e isso foi importante na minha formação.
P.A.: Por que você decidiu iniciar a carreira de cordelista depois dos 40 anos de idade?
A.F.: Eu sempre tive muita energia, e ainda tenho muita (risos). Eu sempre levei a vida que eu queria ter. Queria ser pintor, escultor, retocar, jogar bola. Depois decidi ser esportista. Eu tinha a vantagem da minha saúde que permitia que eu fosse ciclista. Apesar de ser pequeno, comprei uma bicicleta passei uma parte boa da minha vida andando de bicicleta, sou louco por bicicleta, conheci muitas cidades. Enquanto que para uns andar de bicicleta é só um esporte, para mim é um grande lazer. Passei muito tempo dedicado ao esporte e não tinha tempo para outras coisas. A bicicleta sempre foi minha paixão. Lembro que quando comprei minha primeira bicicleta e um amigo meu(Gilson) também comprou a dele, ele disse “Agora abrimos novos horizontes. Isso é lindo e é verdadeiro, a bicicleta abriu novos horizontes.
Então somente depois dos 40 anos começou a minha aproximação com Crispiniano Neto, Luiz Campos, Caio Cézar Muniz e outros que já citei, e foi nesse momento que comecei a fazer recitais. Eu acho que se a pessoa não dá certo no palco, na rua, nas escolas e por onde eu vou. Eu dei certo, graças a Deus. Hoje sou convidado para fazer palestras em vários locais e muitas pessoas leem meus cordéis e me conhecem por esse Brasil a fora.
P.A.: O início de toda carreira no âmbito cultural é difícil ainda mais para quem começa depois dos 40. Você teve apoio para conseguir iniciar sua carreira e lançar seus trabalhos?
A.F.: Eu costumo dize que em toda minha vida eu soube que era muito difícil conseguir vitória nessa área, mas eu consegui. E contei com a ajuda de muitas pessoas. Um dos grandes passos da carreira foi quando conheci Vingt-un Rosado. Ele foi a mola-mestra na minha carreira. Ele sempre me incentivou, ficava insistindo para eu fazer livros, tanto que eu fiz. Como diz Crispiniano, meu livro foi Vingt-un quem fez. (risos). Foi tudo graças a ele , desde o começo. E de lá para cá foi dando certo e vai continuar dando certo. Eu gosto do que faço e me dedico totalmente ao que faço, então tem que dá certo.
P.A.: Você tem uma obra concretizada, nacionalmente reconhecida, mas, que não é muito extensa. Quantos cordéis e livros seus já foram publicados?
A.F.: Eu escrevo pouco. Vou contar uma história: Quando era jovem, morava na Lagoa do Mato, eu sacudia pedra de uma margem da lagoa para outra. Um dia chegou um senhor com cinco pedras e perguntou, quantas das cinco pedras eu conseguia atravessar até o outro lado. Eu disse que não posso, não são cinco pedras qualquer que sei que vou conseguir arremessar pela lagoa. São cinco pedras escolhidas por mim, que eu sei que irá atingir o outro lado. Com os cordéis é desse jeito. Entre cinco ou seis assuntos, eu escolho um para dar certo. Não é todo assunto que dá um cordel. Por isso, tenho uns 40 títulos de cordéis publicados. Já com relação a livros, tenho sete livros publicados e um sendo preparado.

P.A.: Um de seus livros, “Dez Cordéis num cordel só”, foi incluído na lista de obras para o Processo Seletivo Vocacionado (PSV) da Uern. Como o senhor avalia essa indicação?
A.F.: Rapaz! Eu vou dizer uma coisa, ter um livro indicado no vestibular da Uern foi um marco da minha vida como escritor e como mossoroense. Isso graças ao meu amigo Aluísio Barros! Imagine, você ter um livro no meio de nomes como o de Machado de Assis, Cecília Meireles, José Lins do Rêgo. Você saber que milhares de jovens vão ler o seu livro é muito gratificante. Eu acho bom, foi um grande troféu.
P.A.: Com as novas que fazem ampliadas com a internet, que chegam mais fácil aos jovens, podemos pensar que ela vai abafar a literatura, a poesia, o cordel na sua aproximação com esta juventude, ou essa tecnologia ajuda a propagação dessa cultura?
A.F.: :Quando o rádio chegou ninguém acreditava mais no cordel. Colocaram o cordel no rádio e isso ajudou muito. Quando chegou a televisão, a internet, você olha e a pessoa diz: “Eu te conheço”. Daí você diz: “como?” Ele responde: “eu cliquei Antônio Francisco e entrei na sua comunidade”, na internet. Tem coisa que nem mesmo eu sabia de mim. Eu acredito que está auxiliando. E não é só ao cordel, mas à cultura nordestina, que é muito pungente, arraigada na gente sem ninguém saber. Pode pegar qualquer música de Luiz dos anos 1940 que os meninos cantam. Uma mulher fez o povo chorar na Bélgica, solando “Asa Branca” num piano. E o povo não sabe nem o que quer dizer “seca”. Você não vê uma pessoa dizer que não gosta de baião. Lógico que todas as culturas são iguais, mas mais diversificada do que a do Nordeste não existe. Cordel tem ritmo, tem encanto. Sabemos que depende de caso para caso. O cordel tem que se aliar a essas coisas. Bater de frente é pior. Eu não sou muito de mecânica, porque eu acho tão bom que tenho até medo de viciar, porque tem gente viciada. Quando eu comecei a viajar de ônibus em 1967, das 40 pessoas, eu via 18 ou 20 lendo. Hoje, de 40 pessoas tem 40 no celular. Então temos que está presente na tecnologia, mas eu tenho medo de me viciar o tal do celular. Aqui tem telefone, mas quem atende é a mulher.
P.A.: Você acredita que a cultura popular e o trabalho da literatura de cordel, está se tornando mais presentes nas escolas, principalmente depois de sua ascensão na mídia?
A.F.: Rapaz! Tem tido uma mudança grande! Nós estamos no meio dessa mudança e as vezes não percebemos. Antigamente eu não era conhecido. Hoje encontro um senhor na rua e ele diz: “Você é Antônio Francisco? “Eu tenho um menino que é louco pelos seus cordéis. Antes, um menino dizia que o avô gostava. Hoje, o avô diz que seu neto recita meus cordéis. Meu livro foi indicado no vestibular da UERN durante 3 anos consecutivos. Várias escolas de Mossoró e de outras cidades e estados, tem utilizados meus livros para trabalhos escolares, então eu digo que está chegando sim.
P.A.: O que representa para você ter assumido a 15ª cadeira na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, antes ocupada por ninguém menos que Patativa do Assaré autor dos versos memoráveis, e jamais esquecidos

A.F.: Foram duas mudanças significativas: uma foi no cordel e outra na Presidência da República. Eu estive várias vezes com o ex-presidente Lula. Ele deu espaço para cá e eu também mandei o cordel daqui para lá. Quando eu fui eleito na Academia Brasileira de Cordel, o que eu gostei mais foi porque não teve nem um voto contra. O presidente da Academia, quando me viu, disse: “Onde você estava escondido?” Não fui apadrinhado por ninguém. Ele se impressionou e disse: “–A cadeira que tem para esse homem aqui é esta!”.
Então, eu disse assim com meus versos:
A terra pode fazer
Mais de uma tentativa
Rodar na ponta do eixo
De ficar na carne viva
Ela se quebra e não faz
Outro igual a Patativa…
Vou te dizer uma coisa: quando se encontra 10, 12, 20 cordelistas pode acreditar que não é monótono, como uma solenidade oficial. É um acontecimento diferente, espontâneo. Vejo que nos últimos anos, a literatura de cordel ganhou mais espaço, porque antigamente cordel era um negócio de velho, ideia de atrasado. Hoje em dia Crispiniano Neto até lançou o ex-presidente Lula na literatura de cordel.
Então, ter entrado na academia é algo que me trouxe muita satisfação e um enorme prazer.
P.A.: Você sempre pregou no seu cotidiano e nos seus versos, o amor a natureza a preservação do meio ambiente, o respeito, o perdão. Você acredita que um outro mundo é possível? Qual o caminho para alcançar esse mundo defendido por Antonio Francisco?
A.F.: A resposta é universal. As pessoas contam a história como ela acontece e nós, os poetas, contamos o mundo que nós queremos. Digo lá em casa que isso é um pesadelo eu ter que sair com uma camisa de gola, porque desse jeito todo mundo percebe, mas com o Rio Mossoró, ninguém se importa. Então o que falta émais preocupação com a natureza e sua preservação, e leitura. Ninguém consegue nada sem leitura e respeito a natureza.
Eu sou do tempo do rio de água limpa e sem cercas e muros. A gente estava brincando aqui na rua e depois estamos lá no rio tomando um banho e pegando um peixe para o almoço.
Esse rio atravessa nossa cidade, um privilégio, uma água boa e ninguém, dá a isto a importância devida. Às vezes, tomo banho em casa e lembro: mas rapaz um negócio desse, tão bom. Vejo a água entrar e sair da torneira bem limpinha e quando sai lá fora é toda suja. Daí penso: o nosso papel em relação com essa água? E se ela acabar? Será que não tem alguma coisa que o ser humano possa fazer? Tem gente que bota defeito numa árvore! Uma árvore não deixa a água bater no chão, segura a água e solta-a, dá fruta e tudo que você pensar. E quase não tem mais árvores nas cidades. Os índios se abraçavam com as árvores procurando o coração delas, porque achavam que uma coisa tão grandiosa tivesse um coração batendo dentro, mas nós cortamos as árvores para fazer um guarda roupa, para guardar gravata. Meu cordel fala disso. Você corta as árvores e corta acidade todinha. Você não lembra que tem plantas como Marmeleiro, Pereiro, Mufumbo. Não existe mais em nossa cidade uma árvore dessas; você procura a cidade toda e só tem plantas exóticas. Essa é a maneira como o ser humano age com as árvores e com nossa cultura também. Mas tanto nossas árvores como nossa cultura são fortes, se fixam. Essa caatinga passou milhões de anos aprendendo como se vive sem água, e o cordel aprendendo a lutar com o que vem contra. Então eu vejo que o caminho para uma mudança é a valorização da vida e o respeito a natureza.

P.A.: Para encerrar a nossa entrevista, abrimos um espaço para que você fale sobre seus projetos, faça suas considerações finais.
A.F.: Existe um projeto que é o de continuar plantando árvores para distribuir com s pessoas. Árvores nativas e frutíferas. Eu tenho o projeto de doar todos os meus livros e fazer uma coletânea dos meus trabalhos para que as pessoas possam ter mais acesso a leitura. Um livro não pode ficar preso, ele tem que passear por diversas casas e pessoas preenchendo seu universo e despertando novos horizontes. Por isso eu quero iniciar um projeto nesse sentido, doação e troca de livros para que as pessoas possam ter acesso a leitura com maior facilidade e também a distribuição de plantas. Além da publicação de uma coletânea dos meus trabalhos.
Mas esse trabalho tem que ser feito de forma voluntaria sem imposição. Porque você pode colocar planta na rua se a pessoa não gostar dela, não adianta. Para mim não existe educação sem amor. Já pensou você ser um professor e não gostar? O segredo de viver bem, está em você gostar do que faz. É interessante demais; quando a pessoa gosta de alguma coisa que escrevo é porque havia algo nela que já a fazia propensa a gostar, é muito parecido com o que tenho em mente. Tem que ter os dois lados, como eu que escrevo e vocês para gostarem do que faço. E quando escrevo, eu gosto. Escrever é você pensar. Tudo que eu fiz na minha vida eu gostei de fazer, gosto da Lagoa do Mato mais que qualquer outro bairro do mundo. Aqui estão minhas raízes! Aqui eu aprendi duas coisas importantes da vida: Pedir desculpas e dizer muito obrigado.
E para encerrar eu digo:
Setenta e duas cancelas eu vou passando,
e em cada cancela que eu passei
deixei uma gamela de amizade,
labuzada com o meu que eu fabriquei!
Para quando meus netos virem por elas
venham lambendo a garapa que deixei.
Incomparável. Antonio Francisco é sui generis. O nosso poeta-maior, como bem “titularizou” a poetisa Ângela Rodrigues Gurgel. Aqui nessa entrevista o poeta se mostra humanamente humilde, integrado à natureza das coisas e sempre preocupado em preservar, para as próximas gerações, a cultura nordestina, seu modo de ser e viver. Parabéns pela bela entrevista.